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30 Anos de Illmatic

André Araújo

Atualizado: 7 de fev.

Diretamente dos Projetos de Queensbridge, um miúdo de 19 anos levava Nova Iorque de surpresa.

Em 1991 aos 17 anos Nasir Jones revelou-se um rapper promissor com uma participação no álbum Live at the Barbecue do grupo Main Source e no ano seguinte lançaria o single Halftime para a banda sonora do filme Zebrahead produzida por MC Serch.



Com cinco Singles o entusiasmo para o álbum estava em alta, com Nas recebendo múltiplas comparações a outra lenda do hip-pop, Rakim.



A antecipação pelo álbum explodiu quando foi revelada a participação dos produtores lendários Q-tip, DJ Premier e Pete Rock, os quais Nas teve a oportunidade de conhecer graças á sua amizade com Large Professor do grupo Main Source com quem tinha feito a sua estreia.

Esta colaboração foi em parte sorte e parte planeada, já que desde o início o objetivo principal de Nas era trazer uma grande variedade de sons para o álbum.



“Eu conhecia um produtor, Large Professor, e ele tinha ligações com o resto deles. Não queria que o meu disco tivesse só 1 som, eu era um grande fã destes produtores fantásticos então eu precisava que eles me dessem música onde eu pudesse dizer o que precisava de dizer- Fui sortudo, e eles tinham interesse em fazer o álbum.

Eu dizia ás pessoas- ‘Quem vai fazer o teu álbum?’, ‘O Pete Rock, Q-tip, Dj Premier…’ e eles olhavam para mim com dúvida, e eu dizia ‘Não, são mesmo eles que vão fazer o álbum’.

Então depois de um tempo isso virou um interesse […] e a antecipação começou a crescer porque muitas pessoas começaram a pensar ‘O que é que este miúdo está a fazer com eles?” -conta Nas.


Embora seja considerado por muitos o melhor álbum de hip-pop de todos os tempos, inicialmente não foi um grande sucesso financeiro, teve porém um grande impacto no seu publico alvo, nomeadamente fãs hardcore de rap, produtores e outros rappers, eventualmente alcançando Gold em vendas a 17 de Janeiro de 1996.

A receção crítica foi esmagadoramente positiva, aclamado como uma obra de arte e na altura citado como “O melhor hip-pop hardcore saído da costa leste em anos”- Surpreendentemente, alguns críticos não tiveram a mesma opinião.

O jornal Los Angeles Times deu 2 estrelas de 4, argumentando que o álbum sofria de “atitudes e posturas cansadas” e interpretando a consagração dos críticos da costa leste como “uma tentativa óbvia de roubar o hip-pop da costa oeste”.


O álbum recebeu também a classificação máxima de 5 microfones pela revista The Source, algo extremamente raro e inimaginável por muitos ser atribuído a um novo artista acabado de estrear.

“É difícil sobrestimar o impacto de receber 5 de 5 microfones, a primeira classificação dada a um novo lançamento[…]” reconta Reginald Dennis, ex-editor da revista e fundador da XXL.

“Classificar discos com 5 microfones- status clássico - sempre foi, em alguns níveis, preocupante para mim. Quer dizer, não estamos só a dizer que uma determinada peça musical é superior a tudo o que foi lançado agora, mas que será melhor do que a maioria das coisas lançadas no futuro também [...] Eu só dei um 5 sob a minha supervisão e foi para o Illmatic de Nas.”

A demanda regional era tão alta que o álbum sofreu um caso extensivo de pirataria com MC Serch recontando quando descobriu uma garagem com 60.000 cópias piratas.



A maior arma de Nas é o seu liricismo, pintando uma imagem da sua vida e da dos que orodeiam nos projetos sociais de Queensbridge em Nova Iorque quase como um filme, de uma forma que nenhum outro rapper conseguira até a altura.

Os temas prevalentes são uma reflexão clara de Nova Iorque da década- Droga, violência, gangues e a ideologia do “hustle”, quebrando a imagem fantástica e idealizada que a cultura musical e do espetáculo pintara sobre a cidade com a musica NY State of Mind.



Embora os temas sejam sombrios, eram uma reflexão fidedigna da realidade de Nas, o que revelou o potencial que rap tinha para modelar o futuro da cultura- Muitos rappers da altura e até de hoje dão crédito a Nas por moldar a forma como abordavam música e pelo impacto que este teve, não só no mundo de rap mas também na cena da costa leste.







Texto e Edição: André Araújo

Publicado originalmente em Dangan Magazine #1 2024

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