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Retrospectiva: O cult- Blowout Comb

  • Foto do escritor: Bokuano
    Bokuano
  • 24 de jun.
  • 3 min de leitura

Diz-se que muitas vezes as melhores obras de muitos artistas não são necessariamente as que furam a bolha e tornam-se mainstream.

Ideia essa que se enquadra perfeitamente na descrição do álbum "Blowout Comb" do icónico, porém pouco comentado, grupo de rap Digable Planets, mais conhecido pelo seu hit single "Rebirth of Slick (Cool Like Dat)" de 1992.

O grupo formou-se nos finais dos anos 80, quando durante as conversas entre Ishmael Butler (Butterfly) e Craig Irving (Doodlebug), que se haviam conhecido previamente numa festa em Filadélfia, veio à tona a ideia de fazer um grupo de rap, uma sugestão de Butterfly.

Doodlebug então apresentou Mariana Vieira (Ladybug Mecca) a Butterfly e como que por magia surgiu o grupo de Rap Consciente e Jazz Rap chamado Digable Planets em 1987.


Vale ressaltar que os anos 80 são considerados a era de ouro do Hip-Hop/Rap dado ao elevado número de inovações que ocorreram durante esse período. Das letras cada vez mais complexas como a lírica do rapper Rakim, as experimentações de sampling dos Beastie Boys com o álbum "Paul's Boutique" e as fusões de gêneros como fizeram os Run-DMC com Rap e Rock, foi também nos anos 80 que surgiu o Jazz Rap, mas foi só no início dos anos 90 que realmente teve um pico com grupos como De La Soul, A Tribe Called Quest e os próprios Digable Planets.

Em '92 esse último grupo lança o já mencionado single "Rebirth of Slick (Cool Like Dat)", unindo o Jazz ao Rap num loop de baixo hipnótico e rimas que falavam sobre ser "fixe" e ritmos dançantes.

A ideia era mostrar as semelhanças entre os gêneros de Hip-Hop e Jazz, sendo que o Jazz já vinha a ganhar credibilidade como um gênero de música sério em contraste com o Hip-Hop que ainda era muito estereotipado.


Na 36ª edição dos Grammy Awards o grupo recebeu prémio de melhor performance de duo/grupo, além de uma nomeação de artista novo e com tanto sucesso da música, dos seguintes singles e do álbum que ela foi incluída o "Reachin’ (A New Refutation of Time and Space)" de 1993. Um sucessor era de esperar e daí surge o "Blowout Comb" em 1994.


Jazz Rap era considerado rap alternativo dado ao seu som suave, funky e conteúdo quotidiano e político o que contrastava com o popular Gangsta Rap que dominava a década de 90 com as suas histórias dramáticas e por vezes fantasiosas, onde apesar de não haver uma sonoridade específica, especialmente nos dias de hoje, eram comumente acompanhadas por batidas agressivas ou pelo mais funky G-Funk que surgia no final da década de 80 e ganhava popularidade no início dos anos 90.


Nessa altura, projetos completamente Jazz Rap estavam já começavam a entrar em decadência e os artistas optavam em ter uma ou outra faixa no estilo do que um projeto inteiro, como o clássico que além de já possuirmos uma matéria sobre, lançou no mesmo ano de 1994, o "Illmatic" de Nas, onde na sua faixa "The World Is Yours" viu essa moda tornar-se realidade.


Dessa vez mais sérios para com as suas causas sociais e com um som menos amigável as rádios, indo mais a fundo no Jazz Rap só que dessa vez de maneira mais abstrata, o álbum "Blowout Comb" não recebeu a devida promoção o que o levou a fracassar nos tops e também nas expectativas dos fãs.

No entanto, foi extremamente bem recebido pelas críticas da época, muitos elogiaram a complexidade sonora do álbum, outros espantaram pela mistura deixar as vozes por vezes imperceptíveis o que é proposital e também ajuda o ouvinte a perder-se na música e todos os seus instrumentos uma vez que o álbum foca-se mais na parte sonora em relação ao seu predecessor.


A lírica e estética visual é inspirada em jornais comunitários do grupo de ativismo social Black Panther, tal como parte de suas ideias e de outros grupos como o Movimento de Direitos Civis e etc... o que sempre esteve na identidade do grupo, mas desta vez foram ainda mais enfatizados.

Todo esse sucesso crítico mas pouco apoio pelo público mainstream tornou o álbum num cult, mas não foi o suficiente para manter o grupo vivo e desfizeram-se apontado "Diferenças artísticas" e descontentamento com a indústria como algumas das causas.

Em retrospectiva entende-se que talvez o álbum tenha sido ligeiramente à frente do seu tempo para as sensibilidades dos ouvintes, hoje o álbum continua visto como um cult e quase nunca mencionado, especialmente quando comparado ao primeiro álbum do grupo.


Das músicas no álbum "Blowout Comb", destacamos a "Black Ego", "Jettin", "Agent 7 Creamy Spy Theme / Dial 7" e "For Corners".

Boa audição.


Texto: Bokuano

Revisão: Lúcia Pires

Edição: André Araújo


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