Retrospetiva: American Football
- Bokuano

- 15 de set.
- 3 min de leitura

As letras juvenis, o “choro” insuportável e as emoções tão explícitas ao ponto de causar desconforto é o que afasta muitos do género musical Emo, fechando a porta para um dos meus projetos musicais favoritos, o emblemático “American Football” da banda norte-americana de mesmo nome.
Mas vamos antes começar por contextualizar. O nome Emo vem da palavra Emocore, usada pela primeira vez no magazine Thrasher em 1996 para descrever esse novo estilo mais emocional de “Hardcore Punk” (pois ainda não existia Emo) que estava surgir na altura.
Nos anos 90, começa a surgir uma nova vertente Emo no centro-oeste dos Estados Unidos apelidada de Midwest-Emo, ou numa tradução direta, Emo do Centro-Oeste.
Entre as características mais marcantes está a clássica guitarra tocada em arpejo, ou seja, notas tocadas uma a uma em sucessão, a performance do vocalista que une o canto a vulnerabilidades com uma atuação dramática e (ao contrário do Emo tradicional que opta em vezes pela agressividade do screamo, dado ao legado do Punk) melódica e, a troca da sonoridade para um algo mais suave, se aproximando e bebendo muito do Indie-Rock e Mathrock ao invés do Hardcore Punk, que é o que deu origem ao gênero do qual Midwest faz parte.

Apesar de distanciado nessas qualidades estéticas citadas anteriormente, ainda assim é um subgénero do Emo pois partilha da mesma base quanto a emocionalidade dos vocalistas, as temáticas, a história e principalmente a cultura “Do It Yourself” (DIY) ou em português “Faça Você Mesmo”, algo diretamente herdado do Punk. Logo, é comum ver alguns dos projetos identificados apenas como Emo ao invés de Midwest-Emo e vice versa.
Quanto ao pioneirismo o crédito recai muitas vezes sobre a banda de 1989, Cap'n Jazz que em 1995 lança o álbum “Shmap'n Shmazz” ou como também é conhecido “Burritos, Inspiration Point, Fork Balloon Sports, Cards in the Spokes, Automatic Biographies, Kites, Kung Fu, Trophies, Banana Peels We've Slipped On, and Egg Shells We've Tippy Toed Over” e o resto é história, sim, este é o nome oficial do projeto.

Posteriormente, Mike Kinsella, é ex-membro dos Cap’n Jazz, junto ao Steve Lamos (seu ex-colega de quarto e também ex-membro de algumas outras bandas, já tendo tocado numa com Mike) e Steve Holmes formaram em 1997 os American Football e, depois de muita experimentação lançaram o seu primeiro álbum dois anos depois, aos 14 de Setembro de 1999 com o nome “American Football”.
O álbum foi feito em cima da hora porque a banda estava ocupada com a graduação da universidade, sendo então a última chance que tinham para fazerem músicas vivendo no mesmo local.

A capa, apesar de ser a simples fotografia de uma casa, tornou-se um ícone para fãs do género e o álbum de inicialmente 9 faixas também.
Se tivesse de o descrever diria que o tema é principal a despedida, seja de um lugar, ou relacionamento, este último claramente visível na primeira música “Never Meant”, que como o título fala, é sobre o momento em que tristemente se percebe que “não foram feitos um para o outro” no contexto de um relacionamento.
Sentimento este que é explorado na música 3 “Honestly?” através das frases “All the who's are there/ But the why's / The why's are unclear” em português, “Todos os quem estão lá / mas os porquês / os porquês não estão claros”
Mas o álbum também fala sobre arrependimentos e do momento em que se contempla a data de despedida.
Tudo isso em músicas que dividem adequadamente os espaços entre todos os membros, tendo muito mais momentos instrumentais. Aqui a voz é só mais um instrumento; que é realçado pela sua ausência na maior parte dos casos, dando tempo do ouvinte absorver a mensagem e ruminar sobre ela e as emoções de nostalgia/melancolia que inevitavelmente surgirão.
Em 2014, a música “Never Meant” recebeu um videoclipe 15 anos depois e trouxe consigo a volta da banda, foi lançado uma versão expandida do “American Football” com algumas músicas extras, versões alternativas, versões ao vivo e versões de 1998 gravadas durante as práticas antes do lançamento do álbum em 1999.
É certamente uma pérola embora que não mainstream fora do seu círculo, lembra-me filmes de drama universitário, até recomendaria algumas das minhas faixas favoritas mas gosto de cada uma delas, “Never Meant”, “For Sure” e “The One With The Wurlitzer” são as que mais volto, curiosamente a primeira, a música do meio, e a última do álbum, respetivamente, coincidência ?























