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Look-back: Around the Fur - Deftones

Lúcia Pires

Sinónimo da atitude de incerteza e rebeldia do virar do milénio era o nascer de novos subgêneros na musica como tinha sido o caso na década anterior, e um destes subgêneros, embora não vestisse esse nome até pouco mais tarde, era o Nu-Metal.



Associadas a esse canto dessa época do mundo da musica, estão algumas bandas como Slipknot, Linkin Park, Pimp Bizkit e o foco deste mês, Deftones. Descrever este álbum como Nu-Metal é em parte erróneo, e em parte irresponsável já que o subgênero já foi usado para descrever bandas com um som radicalmente diferente, um problema comum com Grunge.


A faixa Rickets parece saída de um álbum dos Slipknot e várias outras faixas como Be Quiet and Drive lembram Linkin Park, enquanto outras lembram Sepultura, o que não é por coincidência, como iremos ver no final do álbum.

Embora que o estilo vocal levemente toque em bases de Rap Metal que mandas como a previamente mencionada Linkin Park fortemente adotariam como parte do seu icónico som, nunca chega ao ponto de se formarem rimas ou se exibir uma intenção explicita de levar as vocais completamente nessa direção.


É difícil não mencionar outra vez Slipknot e Korn ao analisar faixas como Lotion.

Os instrumentais são ásperos e a bateria é quase idêntica ao que se ouvia na cena de Metal na altura, no final o que realmente destaca Deftones do resto são as vocais de Chino Moreno, que mesmo impostas sobre um som familiar, não eram comuns na altura, com fãs até descrevendo estas como gemidos.


Em faixas como Dai the Flu é possível perceber como a banda opera, componentes de Rock, Sludge e as experiencias mais cruas realizadas com esses gêneros por bandas como os Foo Fighters e os Nirvana, cujo primeiro álbum, Bleach,  já foi coberto na nossa primeira edição e partilha traços desse som mais sujo.


A faixa Headup é especial, em parte porque se destaca do resto do álbum graças á participação de Max Cavalera dos Sepultura e funde o estilo das duas bandas de forma divinal.


Sou um enorme fã de Sepultura, o que é capaz de ligeiramente influenciar a minha apreciação por esta faixa, mas acredito também que não fui o único que também se viu influenciado pela banda Brasileira.


Por falar em inspirações, duas delas foram confirmadas pelo guitarrista Stephen Carpenter, que durante o processo de gravação do álbum ouvia em loop o na altura recém lançado Ultra dos Depeche Mode, e pelo vocalista Chino Moreno que numa entrevista para o programa de televisão holandês Wet & Wild revelou:



"Eu não cresci a ouvir musica pesada, mas sempre achei que os The Cure e, tipo, os Depeche Mode e bandas assim eram emocionalmente pesadas e eu adoro isso. 

Isso mexeu-me mais do que alguém a gritar, e é por isso que eu nunca realmente ouvi Heavy Metal. 

Então especialmente com este [Around the Fur] assumi que o conseguiria fazer igualmente pesado... mas sem gritar o tempo inteiro." 


Na época em que iniciaram a produção do álbum, os 4 membros arrendaram um apartamento em Seattle .

Chino e Carpenter recordam as vezes frequentes ode a banda bebia e festejava, lembrando até momentos onde o baixista Chi Cheng e Carpenter fumavam marijuana e escreviam riffs juntos:


"Estava sentado a puxar bafos do Bong, e o Terry a dizer 'Vai lá escrever uma música!' Eu eu estou tipo 'Está bem, deixa-me só fumar outro pica, tenho de o fazer bem.'"


Após produzir o primeiro álbum da banda, Adrenaline, Terry Dates retorna no mesmo papel em Around the Fur.

Foi a segunda vez que a banda gravou em Seattle, desta vez no estúdio Litho, propriedade do guitarrista Stone Grossard dos Pearl Jam.

"Sentimo-nos como família com o Terry, ele não nos dizia o que fazer. Em retrospectiva, talvez ele deveria ter dito alguma coisa, mas o que ouvem em todos aqueles discos foi ele a deixar-nos ser nós próprios." 


Passavam 6 horas por dia no estúdio; visitas regulares incluíam os locais de grunge Alice in Chains e a banda punk Unwritten Law que se encontravam na cidade também em gravações.

Terry Dates viria a produzir os dois seguintes álbuns da banda, White Pony e Deftones e em 2020 voltaria para produzir o álbum Ohms.


Temos de abordar este assunto mais cedo ou mais tarde, a capa do álbum.

Fruto do fotografo Rick Kosick, esta fotografia de uma mulher, mais tarde identificada como Lisa M. Hughes, foi tirada durante uma das frequentes festas noturnas no Jacuzzi.



Á primeira vista de olhos, a banda escolheu esta foto para a capa, no entanto, Chino Moreno viria a mostrar uma opinião diferente:

"Aquela capa é terrível. Na altura vivíamos todos num apartamento e tínhamos festas todas as noites. Estávamos no jacuzzi nessa vez e isso foi só uma foto aleatória que de alguma forma escolhemos para a capa.

Na contracapa há uma fotografia da cintura para baixo. Na fotografia original o Frank [Delgado] está no jacuzzi ao lado dela, então tiramo-lo com Photoshop.


Eramos todos casados na altura, então como é que explicaríamos ás nossas mulheres que estamos num jacuzzi com estas miúdas?"

Num espetáculo em 1998 em Belfast na Irlanda do Norte, Chino mergulhou para a multidão e de seguida encontrou-se asfixiado pelo braço de um fã eufórico.


"Eu meio que sabia que ele não me estava a tentar magoar, mas estava realmente a ficar sem ar, e o resto da banda viu isso e pensaram 'O que raio se está a passar?' o rapaz estava a sufocar-me!


Já vi essa fotografia e o gajo está literalmente a sufocar-me por pura felicidade."




Texto: André Araújo

Edição: Lúcia Pires

Publicado originalmente em Dangan Magazine #3 2024



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