A História de Acid Bath
- André Araújo
- 23 de abr.
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.
Vistos como forasteiros na cena musical de Louisiana a trazer um novo som que ecoava os aspetos mais pesados da cena de Grunge em Seattle, os Acid Bath vindicaram um seguimento de culto e notoriedade nos pântanos sulistas. Embora o período de atividade da banda tenha sido curto, a história desta não deixa de ser fascinante, visto que esta, anos depois da sua dissolução, se encontra numa luta contra forças maiores que pretendem apagar a sua história do mundo da música. O caminho ao sucesso foi afetado principalmente por três factores: más decisões de negócio, discussões sobre o futuro da banda e uma tragédia que ultimamente viria a dissolução desta.

A 8 de Agosto de 1994 e 12 de novembro de 1996 lançariam os seus dois únicos álbuns, When The Kite String Pops e Pagan Terrorrism Tactics respectivamente.
Lançaram também várias edições e rádio e uma coleção de demos em 2005 com o nome “Demos 1993-1996”.
Influências contam com Black Sabath, Alice Cooper, Celtic Frost, Carcass e Darkthrone resultando numa mistura de Sludge com gótico e vocais de grunge.
Muitos referem o ponto de origem da banda como Nova Orleães, porem esta ideia está errada como refutado pelas palavras de Sammy Duet na revista Buzzmonger: “Deixem-me clarificar que, não somos uma banda de Nova Orleães. Nunca fomos e nunca vamos ser. Sem ofensa.” “Somos da baía, dos pântanos mais a sul que há. Somos do mais fundo até encontrares água.”
A banda situava-se em várias pequenas cidades em Louisiana, mas oficialmente tinham como base Houma, e embora não alcançassem sucesso comercial, teriam enorme sucesso no seu território cultivando um grande cultuado de seguidores.
A banda era formada por membros de duas bandas prévias chamada Dark Carnival e Golgotha, o guitarrista Sammy Duet e baixista Audie Pitre pertenceram ao Dark Carnival enquanto o vocalista Dax Riggs, guitarrista Mike Sanchez e baterista Jimmy Kyle pertenceram ao Golgotha. Originalmente o nome da banda seria Golgotha, como revelado por Dax Riggs numa entrevista, a decisão de mudar o nome para Acid Bath foi feita quando descobriram que existia outra banda na Europa com o nome Golgotha.
Um facto interessante, na pesquisa para este artigo descobrimos que existiram pelo menos 10 bandas diferentes com o nome Golgotha ou Golgatha, o que complicou um pouco verificar este facto.

Atualmente a maior ameaça ao legado da banda é a própria label Rotten Records, uma label independente a qual o vocalista Dax Riggs descreveu na revista Self-Titled como uma “Má empresa” e da qual a banda queria sair, porém estavam impedidos por contrato de o fazer.
Graças à luta dos fãs na tentativa de manter este legado vivo, a banda ganhou uma considerável proeminência, suficiente pelo menos de forma a conseguir finalmente estar disponível por completo no Spotify e outras plataformas.
Uma excepção destas plataformas é o YouTube, que ainda se encontra em parte desprovida de uploads oficiais dos álbuns, sendo as tentativas dos fãs de o fazer removidas pela label.
No momento em que escrevemos o artigo, esta luta entre os fãs e a label continua forte, conseguindo já encontrar algumas músicas, recorrentes num processo de upload e remoção, um dia a música está lá, no outro a Rotten certifica-se da remoção desta. Um dos casos mais interessantes nesta luta contra a Rotten Record foi um par de uploads que nos apanhou desprevenidos pelo nome de Placid Rats com os álbuns When The Cheese Piece Drops e Feline Extermination Rat Tricks.

As thumbnails, as capas dos álbuns When the Kite String Pops e Pagan Terrorism Tactics protagonizadas por ratos, com os títulos das músicas seguindo o mesmo tema de roedores e queijo. Estes álbuns abrem com o cântico: “Ratos, somos ratos, nós somos os ratos, atacamos à noite, perseguimos à noite, somos os ratos, eu sou o rato gigante que faz as regras todas, (…)”:
Escondido como uma paródia, estranhei quando comecei a ouvir as músicas originais até me aperceber que era uma tentativa de evitar a detecção automática por parte da label, um comentário do uploader original no vídeo do When The Cheese Piece Drops resume bem o sentimento dos fãs: “get fucked rotten records”.
When the Kite String Pops
O primeiro lançamento da banda, When the Kite String Pops destacou-se imediatamente com uma capa contendo um dos quadros do assassino em série John Wayne Gacy, conhecido por “Palhaço Assassino” enquanto este se encontrava no corredor da morte pela morte de mais de 30 jovens, sendo executado a Maio de 1994, 3 meses antes do lançamento do álbum.

A decisão sobre a capa não coube à banda, com Dax Riggs revelando que foi a Rotten Records que empurrou o uso deste quadro com o objectivo de causar polémica como estratégia de vendas, com Dax pessoalmente odiando a escolha. Esta não seria a única vez que a banda seguiria esta rota polémica com o seu EP de 1994 chamado “edits” usando desenhos de outro assassino em série chamado Richard Ramirez, conhecido como “Night Stalker”, que aterrorizava as áreas de Los Angeles e San Francisco na década dos 80. Os média na altura comicamente tentaram atribuir os homicídios de Ramirez à música da banda AD/DC, uma táctica comum durante as décadas de ouro de Rock e Heavy Metal e o pânico religioso e moral que as rodeavam.
Pagan Terrorist Tactics
A capa de Pagan Terrorist Tactics de 1996, embora não contenha obras de assassinos em série, continuou polémica, desta vez usando um quadro feito por Jack Kevorkian, um médico polémico proeminente na luta pelo direito de suicídio assistido.

Contrariamente a Dax Riggs, Mike Sanchez era muito mais a favor desta direção, e numa entrevista em 1997 com a revista Chronicles of Chaos comentou sobre a escolha das capas dizendo: “A loucura, caos e romance de Ramirez e Gacy eram um ingrediente delicioso a adicionar à nossa tarte americana”.
Fora a música, Dax Riggs tinha também como inspiração banda desenhada, nomeadamente os trabalhos de Frank Miller, Alan Moore e Clyde Barker, com outras referências a cultura popular espalhadas pelo seu trabalho.
Na última faixa do álbum When the Kite String Pops, Cassie Eats Cockroaches, a banda usa samples do filme A Clockwork Orange e do filme Blue Velvet.
A Tragédia
Infelizmente a carreira da banda viria a um fim prematuro a 23 de Janeiro de 1997 após a morte do baixista Audie Pitre num acidente de carro na qual uma colisão com um condutor embriagado resultou na morte de Audie e a sua família, com o seu irmão mais novo e o condutor os únicos sobreviventes. Fora a morte de Audie Pitre, Dax Riggs revelaria numa entrevista anos depois que nos últimos anos da banda começaria a escrever músicas mais lentas e acústicas e o resto do grupo não tinha interesse.

“Havia alguns problemas com o segundo álbum. A vibes de Iggy Pop que eu estava a transmitir não foram completamente aceites pela banda.” – Conta Dax à revista Metal Underground
Noutra entrevista foi feita a pergunta a Dax sobre o quão influencial foi a morte de Audie na decisão de dissolver a banda.
“Havia um certo ambiente na banda de que já estávamos fartos. Haviam demasiadas pessoas à nossa volta que não tocavam na banda que dependiam de nós para suportar o seu estilo de vida. Não sei se teria sido capaz de ir embora, talvez pudesse ter começado a afastar-me aos poucos. O Audie era quem unia toda a banda, era ele que curtia de música hippie pesada e melódica. Senti que criativamente já não funcionava, já não nos dávamos e cada um tinha o seu canto na banda. Não foi uma desculpa, foi uma razão. Ainda tocámos alguns concertos sem ele, mas pareciam uma farsa.”

O guitarrista Sammy Duet revelou que algum trabalho estava a ser feito por volta da altura da morte de Audie num terceiro disco com o nome Killer Rat Poison, estas rumoradas faixas tratavam-se porem só de ideias e peças nascidas durante ensaios na sua casa em Louisiana com nenhuma tendo sido gravada de forma profissional ou oficial.
Texto: André Araújo e Mário Cunha
Edição: Lúcia Pires
Publicado originalmente em Dangan Magazine #2 2024