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A História de Type O Negative

Atualizado: 1 de mai.

A história remonta a 1982 com a formação da banda Carnivore co-fundada pelo futuro baixista e vocalista de Type O Negative Peter Steele. A banda misturava Hardcore Punk e Thrash Metal num estilo chamado de Crossover, igual a bandas da altura como D.R.I, Agnostic Front e Suicidal Tendencies e um estilo visual fortemente inspirado em Mad Max e Conan o bárbaro, junto de fatos tribais e pós-apocalípticos.

Muitas músicas de Carnivore partilham uma semelhança ao som único dos primeiros álbuns de Type O Negative, e não é coincidência já que várias delas seriam repropositadas por Peter.

Depois de lançarem o segundo álbum em 1987, Carnivore dissolveu-se e Peter Steele formou uma nova banda com o nome Repulsion, mais tarde renomeada de Type O Negative e muitas músicas que ele tinha feito para Carnivore acabariam por ser usadas no álbum de estreia Slow, Deep and Hard em 1991 com um som mais sombrio e gótico.

 As letras começaram a ser dissecadas, e faixas como Der Untermensch, uma musica sobre drogados e vagabundos foi brutalmente criticada- acusações de simpatia ou até relação com ideologias nazis. Concertos na Alemanha e na Áustria cancelados devido a ameaças de bomba, e punks em Berlim a incentivar violência, pendurando posters a pedir pelo assassinato de Peter.

“Eles inventaram um monte de merdas e disseram que eramos nazis. Como judeu, obviamente eu nunca quero ser catalogado de nazi. Mas ao mesmo tempo pronto, vá- tornem-nos famosos. É na boa." - Josh Silver


A banda seguiu Slow, Deep and Hard com o seu segundo álbum Origin of the Feces, que foi por alguma razão promovido como um álbum ao vivo, embora não o seja de todo. Foi gravado no estúdio, com o barulho da multidão sendo adicionado depois de forma a parecer gravado ao vivo, e a maioria das faixas são só versões regravadas de faixas do álbum anterior com novos títulos.

“O Peter era o tipo de gajo que nunca estava feliz com o resultado final. Basicamente, quando o Slow, Deep and Hard lançou e ele começou a Tour para o álbum, na cabeça dele ele já estava a pensar adiante e tinha revisto e mudado as musicas. O Origin of the Feces foi a maneira dele de concertar aquele álbum de acordo com o som que tinha na mente." - Monte Conner


Ouvindo estes dois álbuns agora notam-se claramente as sementes do que Type O Negative viria brevemente a se tornar, e embora nenhum dos álbuns tenham sido particularmente bem-sucedidos mesmo num nível Underground, isso estava prestes a mudar.

Em 1993, lançaram o seu terceiro álbum Bloody Kisses, onde se realmente tornaram no que são conhecidos por hoje. Continuava pesado e viscoso como o som que sucedera, mas era algo inteiramente diferente.

É esmagador e sombrio, mas com músicas muito mais digeríveis para o público. Haviam ainda alguns traços do seu passado de Hardcore com músicas como Kill All the White People, que podia facilmente ser uma música dos Carnivore.


Mesmo com o que era unanimemente aclamado como um álbum incrível nas mãos, a banda ainda era consideravelmente inativa, principalmente porque o Peter não queria fazer uma turnê- pelo contrário, queria manter o seu trabalho no Departamento de Parques da Cidade de Nova Iorque, e nem era ainda claro se a banda ia sequer continuar a existir. 

Eventualmente conseguiram convencer o Peter a fazer uma tour, inicialmente com a banda Life of Agony, mas ainda não tinham encontrado sucesso comercial.

As pessoas certas andavam de olho na banda- primeiro os Nine Inch Nails ofereceram a proposta para uma turnê (a Self Destruction Tour), e depois os Motley Crüe, o que surpreendentemente foi o que catapultou a carreira de Type O Negative.

Depois, tudo mudou- primeiro a banda foi adotada pela MTV, especialmente a faixa Black Nº1, que marcou presença em programas como o Headbangers Ball e Beavis & Butthead quando este se encontrava no seu pico cultural, uma força capaz de fazer ou destruir carreiras.


“A Black Nº1 andava com boa rotação (na MTV), e naquela altura a tua carreira estava a ser julgada e batizada, ou até permitida por dois personagens de desenho animado- o Beavis e o Butthead. Se eles gostassem de ti, estavas dentro- se não, então a tua carreira acabava. Muitas bandas foram postas para fora por causa do Beavis & Butthead, o que é assustador; mas eles gostaram da Black Noº1, o que pôs a roda da rádio a girar." – Kenny Hickey


O Bloody Kisses tornou-se o primeiro álbum a alcançar estatuto de ouro da Roadrunner, o que transformou a label em algo maior do que uma mera label de metal underground.

Ao mesmo tempo, Peter tornou-se também numa "celebridade alternativa" aparecendo nas páginas da revista erótica Playgirl e no programa Jerry Springer.

Após um extensivo período de turnê a banda seguiria em 1996 com October Rust, seguindo os passos de Bloody Kisses e levando o som numa direção ainda mais gótica, deixando de lado em grande parte os elementos de Doom Metal e Hardcore presentes nos álbuns anteriores. É considerado pelos fãs o melhor álbum da discografia da banda.


A seguir, em 1999 lançaram World Coming Down, um álbum muito mais sombrio e mórbido- com músicas como White Slavery, que aborda o crescente problema de Peter com cocaína.

“A pior parte é a ressaca. São 5 da manhã e não há ninguém com quem possa falar. Estás num autocarro de turnê a 130kmh, olhas pela janela fora e parece que estás em marte. Só conseguia pensar em saltar do autocarro em movimento.” – Peter Steele


“Eu sempre disse que ele queria ser uma pessoa normal, mas porque ele é o Peter, isso não estava nos planos; era completamente impossível, (…) Acredito que ele adoraria poder só sair, ir a um bar, beber uns copos. E nós tentávamos fazer isso, mas mal ele chegava ao bar todos gravitavam na direção dele. Ele não podia ir á loja ao pé de casa sem algo lhe acontecer."

Quando perguntado se isso se devia á estatura do Peter, Johnny respondeu:

“Acho que sim. Ele tinha uma aparência marcante, ele não parecia normal- e tinha presas. Ele tinha 2 metros de altura, cabelo preto comprido e presas. Não vais ver uma reação normal quando vais sair ás compras."


4 anos depois, voltaram com Life Is Killing Me- nesta altura, Peter começava visivelmente a repensar a vida que escolheu, uma ideia presente ao longo do álbum, e explicitamente abordada através da faixa I Don't Wanna Be Me.

“Gostava de encontrar alguém com quem passar o resto da minha vida e gostava de ter filhos, mas não me vou apressar com nada disso, simplesmente porque não acho que o trabalho de um pai deveria ser ‘Rock & Roller'.


A banda seguiria Life Is Killing Me com o que acabaria por ser o seu álbum final Dead Again em 2007, outra vez extremamente sombrio e um obvio produto das suas circunstâncias. Peter tinha-se tornado um recluso; o seu abuso de drogas estava a ficar cada vez mais fora de controlo e acabou por ser internado involuntariamente pela sua família.

“Passar por uma crise de meia idade e ter tantas coisas a mudar repentinamente fez-me perceber a minha mortalidade. (…) E quando começas a pensar sobre a morte, começas a pensar no que vem a seguir. E começas a esperar que haja um Deus. Para mim, é um pensamento assustador não ir a lado nenhum. E também não consigo acreditar que pessoas como o Stalin e o Hitler vão para o mesmo sítio que a Madre Teresa.” – Peter Steele


Em 2010, com 48 anos, Peter Steele faleceu de falha cardíaca- e este foi o fim de Type O Negative.


“(…) E desde de que estou sóbrio á uns 6 meses já começo tipo, a sentir coisas outra vez.” 

– Peter Steele


“Acredito que o trabalho do Peter merece algum tipo de celebração- e como o fazer, ainda não tenho mesmo ideia. Mas nunca sequer considerei fazer qualquer tipo de reunião ou lançar algo com o nome Type O Negative sem ele. A musicalidade dele, o caráter- sem ele, não é Type O Negative.”- Kenny Hickey


Já controversos desde que se estrearam, a banda, e mais especificamente o Peter são alvos de críticas e questões de uma nova geração que neste momento descobre e consome Type O Negative através de redes sociais como o Tiktok e Instagram num mundo radicalmente diferente do que era quando a banda começou a tocar, ou até do mundo que originou os Carnivore.


É de relembrar que embora Type O Negative estejam na atualidade fortemente associados á imagem e estética gótica, a banda é fruto da cena de Hardcore que em si é proveniente de Punk- Um movimento que é agora erroneamente aglomerado com ideologias de esquerda, quando o seu mero propósito é a contracultura, seja ela de esquerda ou de direita. Dito isto, Peter Steele cresceu numa versão de Nova Iorque que não existe há muito tempo, Nova Iorque e especialmente Brooklyn não era um sítio fácil e tranquilo de se viver nos anos 70 e 80- Esta foi uma época marcada por extrema tensão racial e violência e a miserável presidência de Ronald Reagan.

Eles eram basicamente animais selvagens porque cresceram no que era essencialmente um campo de batalha, onde ir para a escola ou andar de metro para algum lado significava literalmente arriscar a tua integridade física ou a tua vida todos os dias.

Por isso, não hás de ser a pessoa mais progressiva crescendo num sitio como este. Pensem assim- ele nasceu em Brooklyn em 1962; o que vos daria a entender que um gajo de Brooklyn que cresceu nos anos 70 seria progressivo de acordo com padrões modernos?

Texto: André Araújo

Edição: Lúcia Pires

Publicado originalmente em Dangan Magazine #4 2024





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